domingo, 18 de outubro de 2009

MAL AGRADECIDO



No rescaldo do ciclo eleitoral que passou há algo que me incomoda e que é revelador da preversão sistémica em que o nosso sistema político entrou.


Depois das eleições, os candidatos e suas equipas sobem às tribunas para gritar victoria e para agradecer !!! Mas agradecem o quê ?


Agradecem tão exuberantemente que até desconfiamos que, com tanto agradecimento, o que envolve tais victorias não pode ser só mais quatro anos de trabalho árduo em prol do desenvolvimento do concelho.


Afinal porque estão eles tão contentes ? Será por terem mais quatro anos de reuniões de Camara e de Assembleias Municipais ? Mais quatro anos de trabalho extenuante e privação de convivio familiar ? Mais quatro anos a pedinchar verbas ao governo, a discutir orçamentos e a ser chamado de aldrabão? Mais quatro anos de complicadas engenharias para ver onde é que se pode aumentar o nivel de endividamento do municipio ? Cada maluco, sua mania, mas - sinceramente - considero demasiada alegria para tanto sofrimento.


Estou ciente de que não somos um povo frio como os suiços e, é claro, que toda a dinâmica de uma campanha, a existência de adversários, a mobilização dos apoiantes e toda a envolvência politico-eleitoral, desperta em todos um saudável espirito de competição que leva a que - feitas as contas - se grite victoria a plenos pulmões e se reconheçam derrotas ... mas agradecer ?


É que agradecer aos eleitores, é agradecer um presente, a excitação é tanta que - em certos casos - só falta esfregar as mãozinhas de tanta impaciência !! Se agradecem, em sinal de educação, só deviam agradecer pelo voto de confiança e reconhecimento dado pelos eleitores, deveriam agradecer o seu apoio para mais um longo e penoso mandato de sacrificios em nome do povo que os elegeu... agora... agradecer pelas victorias ... senhores políticos, "cheira a esturro" e não fica bem !


É aqui. precisamente, que toda a lógica se inverte; Um candidato (e sua equipa) dever-se-ía candidatar com um espirito de serviço e de missão, dever-se-ia candidatar sem mais nenhuma intenção se não a de promover o desenvolvimento da sua autarquia ... mas isso é só trabalho e muito ! Nem sequer é um trabalho expedito... as verbas são escassas, os orçamentos discutidos, as obras são demoradas, o tribunal de contas é pormenorizado, os fundos europeus são dificeis... depois ainda há os organismos nacionais que "metem o nariz" em tudo, a oposição que "inventa histórias", a Dª Ermengarda que se queixa do buraco no passeio quando o eleito está a tomar café com a familia ao domingo... as inaugurações, as demolições as reuniões e as recepções !!!


Agradecer ?


Saberemos reconhecer um candidato sério, ciente da sua missão e dedicado ao seu dever, quando no discurso de victoria for humilde para só agradecer o apoio e se for deitar cedo porque no dia seguinte tem um longo dia de trabalho à sua espera ! Conhece algum ?

2 comentários:

  1. Meu amigo, nem tanto ao mar, nem tanto à terra! A mim parece-me bem que agradeçam. Agradecem a confiança depositada; agradecem o facto de nos enganarem durante tanto tempo e, mesmo assim lhes termos dado o voto e agradecem terem emprego muito bem remunerado durante mais 4 anos. Claro que tinham que agradecer!
    E, na verdade quem, de nós, não se envolveu em campanhas eleitorais? quem não fez caravanas? quem de nós não defendeu acerrimamente um candidato a umas quaisquer eleições, convencidissimos de que, esse sim, era um candidato diferente? E quem de nós não delirou com esse discurso de agradecimento como se o agradecimento fosse mesmo digido a nós próprios? E quem de nós não fez a festa como se tivessemos sido os vitoriosos? Pois eu digo, os agradecimentos são uma obrigação de qualquer eleição, tal como o são a festa que rodeia a vitoria, as lágrimas de que se enche a derrota. É assim que se vive. E não há melhor maneira de viver do que com emoção e coração. Ao menos que nos reste esta exuberante maneira de viver acontecimentos entediantes.

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  2. Boa, Maria!
    Estou inteiramente de acordo com o que escreveste. Vivamos, pois, com a coração e com a emoção.
    E não sejamos parcos nos agradecimentos.

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